Thursday, December 14, 2006

The Organized and Disorganized Killer * O Assassino Organizado e Desorganizado

Science and its development is a result of a necessity for knowledge. It is very likely that sexual, serial offenders have always existed, and we even have evidence of that. But one thing is certain: they are essentially a modern phenomena. We have never seen so many of them and they have never before represented such a serious risk to society. Science grows along with the problem; the escalating number of sexual murderers stimulated the development of criminology and the method of profiling – that means using the knowledge derived from psychiatry and psychology to come up with psychological profiles of a murderer – and that knowledge is used to get to the killer faster.

The USA were the first to develop profiling methods in order to catch sexual predators. The term “serial killer” was actually first mentioned in the 60’s by Robert Ressler, a famous american profiler and criminologist for the FBI. There’s a pretty simple explanation for all this: the excellence with which americans have contributed to science, and above all else the incredible number of serial and sexual killers they have in their midst, a number higher than anywhere else in the world. A book Ressler wrote along with Burgess and Douglas is considered one of the bibles of criminal profiling – for those who want to know further the book is called “Sexual Homicide: Patterns and Motives”. In this book the authors bring up a topic which I consider to be very important to understand a killer’s behavior: the aspect of organization and disorganization of the criminal. This is what I’m going to discuss here next. You’ll notice how the sexual killer tends to fit in one of these two categories.


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O avanço da ciencia é resultado de uma demanda de conhecimento. É bem possível que os criminosos sexuais e seriais sempre tenham existido, mas um fato é inegável: eles são um fenômeno essencialmente moderno, nunca se viu tantos deles, nunca foram um problema tão frequente e tão sério. Junto com o problema cresce a ciência; junto com os assassinos sexuais e seriais cresceu a criminologia e o método de profiling, ou seja, o uso dos conhecimentos psicológicos e psiquiátricos para se traçar o perfil psicológico de um assassino – e com isso obter mais êxito na captura.

Os EUA são pioneiros nos métodos de profiling (o traçar de perfis) . O termo “serial killer”, ou assassino em série, foi mencionado pela primeira vez na década de 60 por Robert Ressler, um famoso criminologista e profiler do FBI. Há uma razão clara para isso: além da excelência cietífica que os EUA mostram para o mundo, ninguém tem uma demanda maior do que eles, quando se trata de assassinos em série. Uma das bíblias da ciência do profile foi escrita por Ressler, Burgess e Douglas – para quem se interessar, esse livro se chama “Sexual Homicide: Patterns and Motives”. Nesse livro, os autores discutem um tema que considero essencial para se começar a entender as atitudes de um assassino à solta: o quesito organização e desorganização do criminoso. E é isso que eu vou discutir aqui agora. Vocês verão como esse tipo de criminoso costuma se encaixar em uma dessas duas categorias.

Tuesday, October 17, 2006

Friedenbach + Caffé * Case Study * Estudo de Caso



Liana Friedenbach, 16, and Felipe Caffé, 19, met in 2003 in a traditional, private school in Sao Paulo. She comes from a wealthy, respected jewish family, active in the jewish community. A young, pretty girl, on her way to finishing high school, with tons of friends and love. He comes from a simple, humble family, which wouldn’t normally have the means to put their son through such an expensive high school. But he was a good student, respectful, dedicated, characteristics which granted him a scholarship on this high class school, where he met Liana, where they fell in love, where they started exchanging little notes filled with little hearts.

Their blossoming relationship was known and approved by both their families. In what seemed to be a natural desire to be alone together, with more intimacy and time, the couple decided to go away for the weekend on a camping trip. In order to escape their parents’ watchful eyes, Felipe told his family he would be camping with some friends, in a place he had already gone once before – what they didn’t know was that he was going with Liana. Liana told her family she was going on a weekend trip with some friends from the jewish community to Ilhabela, an island on the coast of Sao Paulo famous for its beauty and nightlife.

And there they went. On a Friday night, october 31st 2003, they spent the night together in Sao Paulo, and caught an early bus to Embu-Guaçu, close to the spot where they chose to set camp. Their tent was barely up and already they were seen by a local 16 year old boy only known as “Champinha”, a poor boy, violent and used to violence – he was around by chance, hunting in the wooded area with a guy known as “Pernambuco”. Pernambuco worked as a caretaker and already had trouble with the law, as had Champinha. As soon as Champinha saw Liana, he said to Pernambuco that the girl was “hot”, and with that, the attack began.

They approached the teenage couple armed and took them to a run down house which was owned by another local man, called Reginaldo. On their way there, Liana pleaded for them not to hurt her and her boyfriend, saying she had money and that her family would give them anything for their safe return. The terrified couple soon realised what was the kidnappers’ intentions, or better, Champinha’s intentions, since he was the mentor of the crime from the start. Liana was repeatedly raped by Champinha, Pernambuco and Reginaldo. Some of these awful rape sessions were witnessed by Felipe who, according to the kidnappers, “lost his voice from so much screaming and crying”. On that Sunday morning, after a whole day of fear and torture, the couple was taken to the nearby woods where Felipe was executed with a single shot on the back of the head. Liana didn’t watch her boyfriend die, but heard the shot and immediately entered an absolute state of shock. She wouldn’t say anything else anymore, or even react to her abuse, she would just cry and cry. And like that, she was taken back to that awful little house to resume her sessions of torture and sexual abuse.

On that same Sunday the couple’s parents realised something was terribly wrong – they hadn’t heard from their children. A few phonecalls later, they put the lie their kids told them together and a huge police search began for the two teenagers, organized by Liana’s father, a lawyer called Ari Friedenbach. It wasn’t hard to figure out where they might be, since Felipe had already gone camping on the same area before. The repercussion began, and the kidnappers started feeling uneasy. It is known that Champinha’s brother went to the place they were to warn him that his mother wanted him home because of all the police in the area. Champinha told his brother he was there with his girlfriend, and that he still had to see her to her bus back home. On Wednesday, novermber 5th, after five days of their kidnapping, Liana was taken to that same wooded area where her boyfriend’s body laid. There, Champinha commited the final act, and Liana was murdered by stabbing and blunt force trauma to her head. Her body was found a few days later, along with Felipe’s, to the horror of their parents and of an entire country.

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Liana Friedenbach, 16 anos, e Felipe Caffé, 19, se conheceram em 2003 no Colégio São Luiz - uma escola particular tradicional de São Paulo. Ela vem de uma família rica e bem posicionada, judia e ativa na comunidade judaica. Uma mocinha bonita, novinha, fazendo o colegial, cheia de amigos. Ele veio de uma família mais humilde, que normalmente não teria condições de pagar para o filho um colégio tão caro. Mas ele era bom aluno, estudioso, ganhou uma bolsa e passou a estudar nesse lugar de alto nível, onde conheceu Liana, com quem começou a namorar e a trocar bilhetinhos cheios de coração.

O namoro era conhecido e, ao que parece, aprovado por ambas as famílias. Numa aparente ânsia de estarem sozinhos, com mais intimidade e por mais tempo, resolveram passar um fim de semana acampando, só os dois. Para burlar o olhar cuidadoso da família, Felipe disse aos pais que iria acampar com uns amigos, num local onde ele já havia acampado anteriormente – o que nao sabiam é que seria somente com Liana. Já Liana, disse aos pais que iria viajar com algumas amigas da comunidade judaica para Ilhabela – uma ilha do litoral paulista cheia de jovens e diversão.

E lá se foram os dois. Passaram a noite da sexta feira, 31 de outubro de 2003, perambulando pela Avenida Paulista, e sábado cedo tomaram o ônibus para a região de Embu-Guaçu, local onde pretendiam acampar pelo fim de semana. Mal montaram a barraca já foram avistados por um garoto de 16 anos, morador da região, pobre, acostumado com violência. Conhecido nas redondezas como “Champinha”, estava ali por acaso, caçando tatus com o “Pernambuco”, um caseiro da região com várias passagens pela polícia. Ao avistar Liana, Champinha comentou ao companheiro que aquela menina era “muito gostosa”, e com isso e não muito mais, os dois partiram para o ataque.

Renderam os dois adolescentes e os levaram para um sítio praticamente abandonado ali perto, que estava sob os cuidados de um outro colega deles, Reginaldo. No caminho, Liana disse que tinha dinheiro, que eles não os machucassem. O casal apavorado foi levado a um casebre, e lá perceberam as reais intenções de Champinha, o líder e mentor do crime. Liana foi repetidamente violentada por Champinha, Pernambuco e Reginaldo. Algumas dessas sessões de estupro foram presenciadas por seu namorado, Felipe, que segundo os criminosos “perdeu a voz de tanto chorar e gritar”. No domingo pela manhã, após um dia inteiro de todo o tipo de tortura, os dois foram levados a um matagal onde Felipe foi executado com um tiro na nuca. Liana não assistiu à morte do namorado, mas ouviu o tiro e a partir de então entrou em estado de choque. Não falava mais, não reagia, só chorava. E assim foi levada de volta ao cativeiro, de volta às sessões de abuso e violência.

No domingo mesmo os pais do casal começaram a desconfiar de que algo estava errado. Não tinham notícia dos filhos. Alguns telefonemas depois, acabaram descobrindo a mentira contada pelos filhos e uma busca frenética iniciou-se, organizada pelo pai de Liana, o advogado Ari Friedenbach. Não foi difícil concluir em que região estariam, já que Felipe já havia acampado naquele mesmo lugar anteriormente. A repercussão começou, e os criminosos ficaram preocupados. Um irmão de Champinha foi avisá-lo que sua mãe queria que ele voltasse para casa, pois estava preocupada com a quantidade de policiais na região. Champinha disse ao irmão que Liana era sua namorada, e que tinha de acompanhá-la de volta à rodoviária. Na quarta feira dia 5 de novembro, após cinco dias de cativeiro, Champinha pessoalmente levou Liana a uma região erma muito próxima de onde jazia o corpo de seu namorado. Lá, cometeu o ato final, assassinando Liana com facadas e porretadas na cabeça. Seu corpo foi encontrado dias depois, assim como o de Felipe, para o desespero de seus pais, e para o terror de uma nação.

Tuesday, October 03, 2006

Update

I've been working on a story and an analisys concerning the matter of sexual abuse in violent crimes. It will be ready by the end of the week, so keep your eyes open! In it, I will discuss a shocking double murder case that happened in Sao Paulo 4 years ago. For those who want to know more about that case before I post it here, the victims are called Liana Friedenbach and Felipe Caffé.

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Tenho trabalhado em uma história e uma análise da questão do abuso sexual em crimes violentos. Estará pronta até o final da semana, portanto fiquem atentos! Nesse post irei usar como exemplo o caso de Liana Friedenbach e Felipe Caffé, vítimas de um terrível assassinato cometido 4 anos atrás - quem quiser já pode se informar um pouco sobre este caso antes da minha discussão.

Tuesday, September 12, 2006

The Richthofen Case * Part Three * Parte Três


Daniel and Christian Cravinhos are the two boys who actually killed Manfred and Marísia Von Richthofen on november 1st, 2002. Although they comitted the physical act, they were doing it with the permission of the couple’s oldest daughter, Suzane, who was present at the scene of the crime. In my previous post I expressed my opinion that Suzane was the one who acted as a leader in this crime – which raises a whole lot of other issues. If Suzane is the leader of this pack, if she was the one who had the power to influence the others to commit such an act, why didn’t she killed them herself? If she was the real carrier of such homicidal hate, why not her? And how could she convince two apparently normal, healthy young men to do the killings for her, enough to have them plan the murders with her, months in advance?

To me it is clear that Suzane slowly started poisoning Daniel against her parents. It is very unlikely that Daniel could have influenced Suzane, convincing her that her parents should be killed. I base this conclusion on a simple fact: Suzane’s parents only existed in Daniel’s life because of Suzane and through Suzane. An example will make my point clearer.

Let’s suppose that a married patient of mine comes to me in a session and says, “my husband doesn’t like you. He thinks I’m becoming more and more aggressive since I started therapy, he says he wants to come here one day to tell you his side of the story”. But I don’t know the husband. I could even one day by accident bump into the two of them in the street, I could be polite and say hello, but that would be pretty much the contact my patient’s husband would have with me. Even more important than the fact that I don’t know this man, this man doesn’t know me. He’s not my patient, he has no direct contact with me, he really doesn’t know how I behave in my life and in my work. If he resents me, his wife must have something to do with it, she’s the link between us. To him I only exist through her. Obviously I’m not saying that it is on purpose. Husbands and wives have conflicts, and my patient may use our conversations in the office with less than constructive purposes. Probably when they argue she says, “but my therapist said this. You are wrong, you don’t know anything. My therapist said so”. Of course this man is going to resent me. But I didn’t tell his wife to pick a fight with him, I didn’t tell her to do anything. What is done with the knowledge that we produce is up to the person.

So, if my patient painted a different picture for her husband, one that shows that I’m not for neither against any of them, he certainly wouldn’t resent me like this – he could see in me someone who’s trying to help him and his wife to get along better.

It’s just something I came up with, but this sort of thing happens all the time in the therapist’s office. Back to our case. Manfred and Marísia said to their daughter she was no longer allowed to see Daniel; they said this to her, not to him. Their fights on the subject were frequent in their home, when Daniel was not present. After those she would go tell Daniel, in her own way. If she didn’t want Daniel to be angry with her parents, she would definitely be careful with what she told him, she could even hold out certain parts not to upset him. And that’s what I mean when I say that Daniel’s contact with the Richthofen couple happened mainly through Suzane. Daniel only knew about the conflicts they had through Suzane, and his image of the couple was built through what Suzane told him, not through what he actually witnessed.

This is enough to establish Suzane’s manipulative behavior. Why bring the boys into this? Well, she didn’t want to actually kill her parents, the act in itself wouldn’t ammount to any pleasure or gain. She just wanted to get permanently rid of them, but if she could find someone else to do the dirty work… even better. Daniel was in love with Suzane, we know that. But there’s no love in the world to make most of us do what he did. Daniel and his brother Christian definitely had a delinquent, psychopathic personality before they even met Suzane – and Suzane, let me put it this way, brought out the worst in them.

Christian strikes me as a typical delinquent, a petty thief, who cares very little about pretty much everything, a guy that agrees to kill some kid’s parents for a new motorcicle. He’s the older brother and probably was protective of Daniel, wanted to help him, wouldn’t let him get into this alone. After their arrest this tendency of Christian’s became clear – Daniel was always crying endlessly, swollen, abandoned, desperate beyond control. And Christian, always with his arm around him, facing everybody, facing a country’s rage.

But what about Daniel? In my point of view, the most manipulated of them all. The only one who seemed to get slightly in touch with the enormity of what he had done. Today he goes on acting ashamed, with his head always down. He cries and shows remorse for what he has done to his parents, to his life. We know that Daniel was the one who killed Manfred, while Christian attacked Marísia. Chrsitian doesn’t care, he killed the woman. Daniel tried to be less of a coward, he was there to confront the tirant father and defend his girlfriend. Probably in his damaged conscience he felt it was a fair battle. Of course it wasn’t. It is not fair to attack anyone with that kind of violence, much less a sleeping man. He realised that afterwards, as he covered Manfred’s disfigured face with a towel – the sign of shame.

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Daniel e Christian Cravinhos são os rapazes que efetivamente mataram Manfred e Marísia Von Richthofen, no dia 1 de novembro de 2002, com a conivência da filha do casal, Suzane. Foram eles que cometeram o ato físico, enquanto Suzane esperava no andar de baixo da casa onde a família morava. No meu post anterior, expressei a minha opinião de que Suzane representou o papel de líder nesses assassinatos – isso pode parecer estranho, e levanta muitas questões importantes. Se Suzane era a líder e idealizadora, por que não foi ela que subiu as escadas naquela noite terrível e desferiu os golpes fatais contra seus pais? Já que era ela a portadora desse ódio homicida, por que não ela? E mais ainda, se isso é assim, como Suzane pode ter convencido dois rapazes aparentemente saudáveis a cometer tal ato de loucura, de agressão, simultaneamente, sem aparente questionamento, com meses de planejamento?

Suzane devagar envenenou Daniel contra seus pais. É altamente improvável que Daniel tivesse influenciado Suzane, convencendo-a da necessidade de matar seus pais. Extraio essa conclusão do seguinte fato: os pais de Suzane só existiam na vida de Daniel por causa de Suzane e através de Suzane. Um exemplo deixará meu ponto mais claro.

Vamos supor que uma paciente minha, casada, chegue para mim em uma sessão e diga, “meu marido não gosta de você. Ele acha que desde que eu comecei a fazer terapia com você, estou mais agressiva. Ele diz que um dia virá aqui para falar com você, ele quer contar a versão dele”. Eu não conheço esse marido. Posso até por acaso um dia vê-lo na rua com ela, posso até ser cortês e cumprimentá-los, mas este é o máximo de contato que este homem terá comigo, um contato muito estrito. Mais importante do que o fato de eu não conhecer este homem é o fato de que este homem não me conhece. Ele não é meu paciente, não tem contato comigo, não sabe efetivamente como me comporto e trabalho. Se ele tem raiva de mim, com certeza minha paciente tem algo a ver com isso, porque para ele eu só existo através dela. Claro que não estou dizendo que é de propósito. Maridos e mulheres têm conflitos, e minha paciente pode usar o conhecimento que nossas conversas produz com uma intenção não muito produtiva. Provavelmente quando eles discutem ela diz, “mas minha psicóloga falou isso. Você está errado. Você não sabe de nada. Minha psicóloga que disse”. Óbvio que esse homem vai ficar com raiva de mim. Mas eu não mandei a mulher dele brigar com ele, aliás eu não mandei nada. O que vai ser feito com o que é conversado depende da pessoa.

Portanto, se minha paciente pintasse para seu marido um quadro diferente, que mostra que eu não estou nem contra e nem a favor de ninguém, ele certamente não teria raiva de mim – poderia ver em mim alguém que pode ajudá-lo a se entender melhor com a mulher.

Esse exemplo é hipotético, mas esse tipo de coisa acontece frequentemente no consultório. Pois então. Manfred e Marísia proibiram Suzane de ver Daniel, e não fizeram isso na frente dele. Pegaram a filha e conversaram com ela – essas brigas eram muito frequentes na casa dos Richthofen e Daniel não estava presente quando aconteciam. Daí ela foi contar, do jeito dela. Se ela não quisesse que Daniel ficasse morto de raiva dos pais dela, tomaria certos cuidados. Esconderia dele as piores partes da conversa, sei lá. É isso que quero dizer quando mostro que o contato que Daniel tinha com Marísia e Manfred vinha principalmente através de Suzane. Daniel só sabia dos conflitos que tinham através do que ela lhe contava, e sua imagem dos dois foi sendo montada através da fala de Suzane, não através do que efetivamente via acontecer.

Só isso já começa a revelar o caráter manipulador de Suzane. Por que envolver os meninos? Bem, ela não queria efetivamente matar seus pais, o ato em si não trazia nenhum prazer ou benefício por si só. Ela queria ficar livre deles, e se pudesse arrumar outra pessoa para fazer o trabalho sujo… melhor. Daniel estava apaixonado por Suzane, isso é fato conhecido. Mas não há paixão no mundo que faça a maior parte de nós cometer um assassinato assim. Daniel e Christian Cravinhos definitivamente tinham uma personalidade delinquente e psicopática muito antes de conhecerem Suzane – e Suzane, digamos assim, estimulou o que havia de pior neles.

Christian me parece um típico deliquente, um bandidinho, que se importa pouco com todas as coisas, que topa ajudar o irmão a porretear os pais da namorada por uma moto nova. É o irmão mais velho, e provavelmente tinha sentimentos de proteção com o irmão mais novo, quis ajudá-lo, não permitiu que entrasse nessa sozinho. Depois da prisão dos dois, ficou fácil ver o comportamento protetor de Christian em relação a seu irmão – Daniel sempre chorava copiosamente, inchado, vermelho, desamparado, desesperado. Christian sempre com o braço em volta, apoiando, enfrentando a raiva do país.

E Daniel? Na minha opinião, o mais manipulado. O único que pareceu entrar levemente em contato com a gravidade de seus atos. Hoje age com vergonha, de cabeça baixa diante de todos. Chora e sente remorso pelo que fez, com seus pais, com sua vida. Sabemos que Daniel matou Manfred, e Christian Marísia. Christian não está nem aí, matou a mulher. Daniel tentou ser menos covarde, foi enfrentar o pai tirano e terrível da namorada, defendê-la, provavelmente sentia na sua consciência doente ser uma batalha de igual para igual. Claro que não era. Não é de igual para igual enterrar uma barra de ferro na cabeça de um homem inofensivo que dorme. Ele percebeu isso depois do ato, e cobriu o rosto assassinado e desfigurado de Manfred com uma toalha – o sinal da vergonha.

Tuesday, August 29, 2006

The Richthofen Case * Part Two * Parte Dois


A crime that involves more than one culprit tends to present certain problems. When only one person has commited a crime, we know that person did everything, including the planning and execution of the murder. This is an aspect that has raised much debate in the Richthofen case, where the planning and execution on the crime was divided among three people. Suzane Von Richthofen’s parents were murdered and she seems to be the mentor; but her boyfriend Daniel Cravinhos and his brother Christian were the ones who actually commited the physical act.

Suzane and Daniel were together for a while when all of this happened. Suzane’s parents knew him, had frequent contact with him, it is known that they even went on vacations together. Apparently problems began when Manfred and Marísia found out their daughter was smoking pot with her boyfriend. Panic. Suzane was no more allowed to see Daniel. They were very strict, Suzane would later say. Fights and constant yelling began and were soon happening on a daily basis; the punishments and curfews too. It soon became unbearable for Suzane to cope with the frustration of not being able to do whatever she wanted, and the double murder began to be planned in her head, before anything, as a consequence of her hate.

It is not at all uncommon, if we look all over the world, to see stories of children that murder their parents. The opposite happens frequently too. These types of crimes are the pathological manifestation of something we all have: hate, including for the people we love. When my dad used to say to me, you can go out, but you have to be back by midnight, of course I’d get angry. We all had friends without curfews, friends who can stay out until whenever. And when I got back at 2 am instead of midnight, of course my dad felt angry too. Damnit, I have to sit here and worry about this disobedient daughter of mine. But our hate never destroyed our love. As much as we felt angry we didn’t act out on that anger – as much as in any human being, the homicidal hate exists and is very real, but we’re able to neutralize it, to control it, and our love is usually able to win the fight for as long as we don’t destroy our relationship with our hate.

It really takes a lot of love to hold back a person with a lot of hate – specially if this person doesn’t have the natural social restraints of the healthy human being, that profound disrespect for what’s right and wrong like I said in a previous post about the anti-social personality. A curious thing about all this is that, among the three killers, Suzane was the most affected by this crime, and with that she made it clear what her real motivations were: her own interests. And no one else’s. These parents get in my way? Off with them. Many people are going to suffer with this act of mine, our friends, the people we know and love, our family, my brother Andreas, who’s only 15 years old and will lose his parents, just like me, in the most violent and shocking way. What can I do. This that I’m doing will be a favor for Andreas too. We’ll have money, he won’t miss anything, it won’t make much difference. And he’ll also be free. At some point, everybody will forget about this and I’ll be here enjoying my life, doing whatever I want. No more limits, no more control.

It’s easy to see that a person like this has no real grasp on the impact of her acts. Manfred and Marísia were Suzane’s parents, and her parents were the victims chosen for this crime. It wasn’t the boys’ parents, who watched horrified their only two sons turn into the most despised people in all Brazil. It was the parents of that girl who climbed up the stairs to her home late at night, all alone, to make sure that Manfred and Marísia were fast asleep, harmless and unaware. Before going back down and clearing the way for her parents’ killers, she turned on the upstairs corridor light so that they could see where they were going. So they could be more competent in their act. And while two guys were smashing her parents’ head in the second floor, she was quietly sitting downstairs, listening to two people’s last moments of horror.

But not without checking on them first, let’s not forget. She hardly thought of anything else other than if her parents were in interesting conditions for her to do what she wanted to do next, against their will and without their knowledge, and against the will of her community, of the law and of the world where she lives.

And that’s a perfect psychopath.




(Suzane’s dominating strength seems to be the central aspect of this case. Later, we will discuss her interaction with the Cravinhos brothers, their part in this story and their possible personalities).

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Um crime que envolve mais de uma pessoa apresenta certos problemas. Quando uma só pessoa é responsável, sabemos que ela fez tudo, planejou e executou. Essa questão levantou muito debate no caso Richthofen, onde o planejamento e a execução do crime foram tarefas divididas entre três pessoas. Os pais de Suzane Von Richthofen foram assassinados e ela parece ser a mentora. Mas o namorado Daniel Cravinhos e seu irmão Christian foram os fisicamente responsáveis pelos assassinatos.

Suzane e Daniel eram namorados já há algum tempo. Os pais de Suzane o conheciam, conviviam com ele e até viajaram juntos. Aparentemente os problemas começaram quando Manfred e Marísia descobriram que a filha e o namorado estavam fumando maconha. Desespero. Proibiram a filha de ver o menino. Eram muito rígidos, Suzane mais tarde diria. As gritarias e proibições se tornavam cada vez mais constantes; os castigos e punições também. A frustração de não poder fazer o que queria claramente ficou insuportável para Suzane, e o crime começou a ser planejado na cabeça dela, em decorrência do seu ódio.

Casos de filhos que matam seus pais não são tão incomuns se olharmos para o mundo. O contrário também vale. Esses crimes são a manifestação patológica de algo que todos nós temos: ódio, inclusive pelas pessoas que amamos. Quando meu pai me dizia, você pode sair, mas tem que estar de volta à meia noite é claro que eu ficava com raiva. Sempre temos amigos sem toque de recolher, que podem ficar na rua até mais tarde. E quando eu voltava às 2 horas ao invés de meia noite é claro que meu pai ficava com raiva. Caramba, tenho que ficar aqui preocupado com essa filha desobediente. Mas o nosso ódio nunca destruiu nosso amor. Podíamos ficar com raiva mas não atuávamos essa raiva – como em qualquer ser humano normal, o ódio homicida existe, mas somos capazes de neutralizá-lo, ter algum controle sobre ele, e como temos amor além de ódio, o amor costuma vencer e o ódio não consegue destruí-lo.

Realmente, só o amor é muito pouco para segurar alguém que tem muito ódio – e que não tem as travas sociais naturais do ser humano saudável, aquele profundo desprezo pelas regras que mencionei no meu texto sobre a personalidade anti-social. O detalhe mais curioso disso tudo é que, considerando-se os três responsáveis por este crime, Suzane obviamente é a mais afetada e com isso deixou clara a sua verdadeira motivação: seus próprios interesses. E os de mais ninguém. Esses pais me atrapalham? Pau neles. Literalmente. Muita gente vai sofrer com essas mortes, minha família, meus amigos, nossos conhecidos, meu irmão Andreas, de 15 anos, que como eu, perderá os pais dessa maneira tão violenta e súbita. Paciência. Isso que eu vou fazer é um favor ao Andreas. Vamos ter dinheiro, não vai faltar nada para ele, não vai fazer muita diferença. E ele também vai ficar livre. Uma hora vai passar, todo mundo vai se conformar e esquecer, e eu vou estar aí, numa boa, com meu namorado e com o dinheiro dos meus pais, para fazer o que a gente quiser. Não à proibição, não ao controle, não à coleira.

Dá para ver que essa pessoa não tem noção nenhuma do impacto de seus atos. Manfred e Marísia eram os pais de Suzane, e seus pais foram as vítimas escolhidas para este crime. Não foram os pais dos meninos, que acompanharam envergonhados e cabisbaixos seus dois únicos filhos serem arregaçados pelo Brasil inteiro. Foram os pais daquela moça que antes do crime subiu as escadas de sua casa, sozinha, para se certificar de que Manfred e Marísia se encontravam ali, dormindo e inofensivos. Antes de descer e dar o ok aos assassinos de seus pais, ela acendeu a luz do corredor para facilitar sua tarefa. E por fim ficou sentadinha no andar de baixo, ouvindo os últimos agonizantes momentos de seus pais, sendo mortos à golpes de barra de ferro.

Mas antes de tudo Suzane subiu para dar uma olhada neles, não podemos nos esquecer. Dificilmente pensou em qualquer outra coisa a não ser se seus pais estavam em condições interessantes para o que ela gostaria de fazer em seguida, contra sua vontade e sem seu conhecimento, e contra a vontade da comunidade, da lei e do mundo onde ela vive e que a acolhe.

Eis a perfeita psicopata.



(A força dominadora de Suzane me parece a linha central deste caso. Em seguida, vamos pensar sobre a interação de Suzane com os irmãos Cravinhos, seus papéis nesse crime e o que podemos concluir a respeito da personalidade de cada um).

Wednesday, August 23, 2006

The Richthofen Case * Case Study * Estudo de Caso


It’s the kind of thing you hear about in the newspaper right when you wake up, cause everybody’s talking about it. This is how it was for the city of Sao Paulo with the Richthofen murder case.

Sao Paulo is the third largest city in the world. It’s only behind Tokyo and New York in size and population. It is by far the largest city in Brazil. Crowded, traffic is hell, but it has its charms. Nowhere in the world you eat as well as one does here. There are millionaires and miserable people. A city of contrasts. The richest nightlife, unlike nowhere else again. At Avenida Paulista, the heart of Sao Paulo’s huge financial center, people in suits cross the streets side by side with punks, with kids, with whites blacks and asians. There’s plenty of violence too, robberies, kidnappings, Primeiro Comando da Capital. We’re used to hearing about that all the time. A story like the Richthofen case, on the other hand, is very rare. It shocked the whole country.

On November 1st, 2002, Sao Paulo woke up with the news that the night before, a well-to-do couple from an upclass neighborhood had been murdered in their sleep. Manfred and Marisia Von Richtofen were found severely beaten, dead in a pool of blood in their own bed. He was an engineer for Dersa, the state of Sao Paulo’s department of roads and freeways. She was a psychiatrist, who held a successful clinic and had a large number of clients. They had money, a beautiful large house, they were respected and loved by their family and friends. The couple’s two children, Suzane,19 at the time, and Andreas,15, were said to be both out at the time of the murders – she was with her boyfriend, Daniel, and he was at a local lan house playing video games. When they returned on that Saturday morning, they found their house opened, the burglar alarm off, and their parents savagely murdered in their room. They immediately called the police.

Of course the police immediately got to work on trying to find a good reason for something this brutal – revenge? Maybe the work of a madman? One of Marisia’s patients? Some money from the Richthofens was missing, Manfred’s things all over the place in his study. But if pure and simple robbery was the motive, why not take all the other stuff?

Meanwhile, the country sadly watched a pretty 19 year old blond girl and her younger brother hugging and crying as if there was no tomorrow on their parents’ funeral. Family and friends gathered all around them for support, the girl’s 21 year old boyfriend Daniel always by her side, with red, swollen eyes.

It is not clear exactly when the police started suspecting Suzane, but we know that they checked pretty much everybody around her. Then they found out that boyfriend Daniel’s older brother, Christian, had bought a new motorcicle just a couple of days after the murder. He didn’t have a job at the time. Under questioning, Christian broke down and named the other two, Suzane and Daniel, as participants. He said he and his brother did the actual killings, but that it was all Suzane’s idea.


(more on the Richthofen case soon)

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O texto em inglês acima é uma breve introdução do caso Richthofen. Aqueles que lêem este blog em português dificilmente precisarão ser relembrados deste crime tão repercutido e tão famoso no Brasil. Suzane Von Richthofen, 19 anos na época do assassinato de seus pais, foi julgada e condenada recentemente junto com Daniel e Christian Cravinhos – os irmãos que fisicamente cometeram o hediondo crime, em 31 de outubro de 2002.


(mais sobre este caso em breve)

Thursday, August 17, 2006

Modus Operandi II

In order to answer that question properly I will first ask another of my readers: what is the use of a certain modus operandi to the killer? Why does he insist in repeating it, in having patterns, knowing that it will only make it easier for the cops to catch him? Why doesn’t he kill different people, in distant places, in different moments, in different ways? Why doesn’t he kill one person with a knife, another with a gun, confusing the police and therefore avoiding to get caught?


Let’s say you’re hungry. Very hungry. You had breakfast at 6 am and now it’s 5 pm and you haven’t eaten anything all day. I do that sometimes, I live alone, so I have pretty much no structure when it comes to food, I either worry about it or I won’t eat, cause nobody will worry about that for me. Major nuisance. So when I’m working and I’m hungry it becomes harder to concentrate. I catch myself thinking, “when I leave my office I’m gonna stop by this place and buy… a burger! I love burgers. Oh no! Or I could go by that other place and get some sushi, I love sushi. Hummm… sushi”.

So now I’m fantasizing about burgers and sushi. I can’t help it, I’m very hungry. If I try to forget about it I’ll remember every time my stomach wants me to. Someone could come to me and ask, “are you hungry? Do you wanna eat a raw egg, I have one right here”. I won’t eat that, yuk, disgusting, I’ll keep on fantasizing about my burger and sushi – because I don’t like that. I’ll wait, knowing it will make me even more hungry, but I’ll wait so I can eat what gives me pleasure and enjoyment, not just anything.

And that is a simplified way of explaining what’s the use of a killer’s modus operandi to himself. His modus operandi is something that services his fantasy. He could kill in different ways, but that would be like the raw egg to me. Why bother eating it if it won’t satisfy my fantasy of eating stuff I like? And I can eat what I like if I want to.

The killer has urges, kinda like my hunger. And, just like me with burgers and sushi, he has specific ways to satisfy his hunger. It’s incidental to him that the release of his fantasy is illegal. And the violent life a psychopath will lead always begins with fantasy.

Jeffrey Dahmer, the famous american psychopath who ended up killing over 30 men and boys, had a lot to say about that. After he was caught and tried for his crimes, he revealed a lot about his life and early years. It is known that Jeffrey started fantasizing about violence and death as a very young boy. He began by developing a profound interest in dead creatures. When he found a dead animal, road kill mostly, he would take them to the woods and open them up. He wanted to see them on the inside, their organs. He later started killing the animals himself in order to dissect them. So it doesn’t surprise us that Dahmer later became a very aggressive mutilator. He had no real pleasure in their victims’ death or pain; he drugged them before killing them, and most of the time they didn’t even know what became of them. He had consuming fantasies of making his victims become a part of him, so after dismembering them and opening them up (his dissecting interest endured all his life), he would eat them. He wanted them to stay, and that was his motivation always. It is because of those fantasies too that Dahmer took a long time to dispose of his victims’ bodies. He kept them at home with him, rotting in his bed.

Therefore, the killer’s actions (his modus operandi) are closely related with his need to safisfy his violent fantasies. It wouldn’t satisfy Dahmer’s fantasies at all to kill someone, say, with a gun, and leave their bodies there, on the street. It wouldn’t satisfy him to rape a living person, only a dead one. It wouldn’t satisfy him to kill women because he was a homosexual. He had no desire for women. As much as I don’t have any desire for a raw egg.

A killer is trapped by his modus operandi. The most important thing to him is his specific fantasy of violence. His M.O. can’t be changed because he wants things to happen that way. The more rich and complex is his fantasy, the more rich and complex will be his M.O. And if a killer’s fantasies are poor and chaotic, his M.O. will be poor and chaotic as well.



(watch parts of an interview Jeffrey Dahmer gave from death row about his childhood and crimes, right here: http://www.youtube.com/watch?v=G7ndOUewUCc)

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Para responder a esta questão, antes irei indagar meus leitores com a seguinte pergunta: para que serve o modus operandi para o criminoso? Por que ele insiste em repeti-lo, sabendo que isto facilitará o trabalho da polícia em encontrá-lo? Por que não mata pessoas diferentes, de lugares mais distantes, em momentos diferentes, com características diferentes? Por que não mata um com faca, outro com revólver, confundindo a polícia e evitando ser pego?


Vamos fingir que você está com fome, muita fome. Tomou café da manhã às 6 e agora são 5 da tarde e você não comeu mais nada até agora. Às vezes eu faço isso; como moro sozinha não tenho nenhuma infra-estrutura em relação às refeições. Ou me preocupo com isso ou não como, é simples assim, pois ninguém irá se preocupar no meu lugar. Quando estou trabalhando, portanto, e tenho fome, fica muito mais difícil me concentrar. Me pego pensando em coisas do tipo, “quando eu sair daqui vou passar em tal lugar e me comprar… um hamburger! Adoro hamburger. Mas não! Posso sair daqui e ir naquele outro lugar de sushi, amo sushi. Hummmm… sushi”.

Então eu começo a fazer essas pequenas fantasias meio incontroláveis sobre hanburgers e sushi. Não posso evitar, estou com muita fome. Se eu tentar me esquecer dela logo mais vou me lembrar de novo, meu estômago vai se manifestar e me lembrar. Nesse momento alguém poderia chegar para mim e dizer, “você está com fome? Quer comer um ovo cru, tenho um aqui”. Vou dizer que não, eca, que nojo, prefiro ficar pensando no meu hamburger e no meu sushi – porque eu não gosto de ovo cru. Eu espero, mesmo sabendo que quanto mais o tempo passa, com mais fome eu fico. Prefiro esperar e poder comer alguma coisa que me dê prazer, que me seja agradável, não quero comer qualquer coisa.

E essa é uma forma simplificada de se explicar o uso que o modus operandi de um assassino tem para si próprio. Seu modus operandi está à serviço de sua fantasia. Ele até poderia matar de outras maneiras, mas seria como o ovo cru para mim. Por que comê-lo se não vai nem satisfazer minha vontade de comer as coisas mais agradáveis? E eu posso comer as coisas mais agradáveis, se quiser.

O assassino tem necessidades, meio assim, como minha fome. E assim como eu e meus hamburgers, ele tem formas específicas de satisfazer sua fome. Para ele é incidental que a forma de realizar sua fantasia é ilegal. E a vida violenta que um psicopata levará no futuro começa a se desenvolver usando a fantasia como combustível.

Jeffrey Dahmer, o famoso psicopata americano que acabou por matar mais de 30 homens e meninos, teve muito a dizer sobre isso. Depois que ele foi julgado e condenado por seus crimes, acabou revelando muita informação sobre sua vida e sua infância. Hoje sabemos que Jeffrey era ainda um menino pequeno quando começou a fantasiar sobre violência e morte. Ele começou desenvolvendo um profundo interesse por criaturas mortas. Quando encontrava algum animal morto, principalmente em acidentes de estrada, ele levava seu corpo até algum lugar deserto e o dissecava. Ele queria vê-los por dentro, seus órgãos, eram algo que fascinava. Mais para frente ele próprio matava os animais que dissecava. Não nos surpreende saber que Jeffrey Dahmer mais tarde se tornou um dos mais agressivos mutiladores – mas não tinha grande prazer no ato de matar, ou na dor da vítima, pelo contrário. Costumava drogar suas vítimas antes de matá-las, e essas mal percebiam o que lhes acabava por acontecer. Dahmer tinha fantasias poderosas de um dia poder fazer o outro ser parte dele, comia partes de suas vítimas, depois de desmembrá-las e dissecá-las. Queria que as pessoas ficassem, essa sempre foi sua motivação. Por causa disso Dahmer demorava o máximo possível para se desfazer dos corpos de suas vítimas. Ficavam ali com ele, apodrecendo em sua cama.

Com isso percebemos que as atitudes do assassino (que compõem seu modus operandi) estão intimamente ligadas com a satisfação de suas fantasias. Dahmer não se satisfaria em matar alguém na rua com um tiro, ou em violentar alguém que esteja vivo. Não ficaria satisfeito em matar mulheres, era homossexual. Não tinha desejo por mulheres. Do mesmo jeito que eu não tenho vontade de comer o ovo cru.

Um assassino está sempre preso ao seu modus operandi, qualquer que seja. A coisa mais importante para ele é sua fantasia específica de violência. Seu modus operandi não pode mudar muito porque ele que que as coisas aconteçam daquele jeito. Quanto mais complexas e ricas forem suas fantasias violentas, mais complexo e rico será seu modus operandi. Se as fantasias de um assassino são pobres e caóticas, seu modus operandi também será pobre e caótico.



(Assista partes de uma entrevista que Jeffrey Dahmer deu direto do corredor da morte sobre sua infância e seus crimes, bem aqui: http://www.youtube.com/watch?v=G7ndOUewUCc)